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Norma para fundo de investimento sustentável mobiliza gestoras

|26.05.2022

BNP ganha selo sustentável da Anbima, e assets se adaptam

Por Adriana Cotias — De São Paulo

A gestora do grupo francês BNP Paribas no Brasil foi a primeira a obter o selo de fundo de investimento sustentável (IS) da Anbima, para uma carteira que reúne debêntures ligadas a projetos de energia renovável, em sua maioria.

A descrição das práticas de responsabilidade social, ambiental e de governança (ESG, na sigla em inglês) na seleção dos ativos no regulamento é um dos pré-requisitos para a asset ter seu portfólio reconhecido. Sai de cena o ESG autodeclarado e passa a valer um processo de investimento documentado.

O prazo dado pela entidade para fundos de ações e de renda fixa que usam em sua designação termos como ESG (ASG), “impacto”, “sustentabilidade”, “verde” ou similares se enquadrarem vai até 1º de julho. Já as carteiras de ações classificadas hoje como “sustentabilidade e governança” têm até janeiro de 2023 para se adaptar.

Além do BNP, instituições como BB DTVM, Itaú, Bradesco, Santander, SulAmérica, JGP e Plural estão entre os nomes em processo de adaptação para que alguns de seus fundos ganhem o sufixo IS. Já a Sparta e a Fama vão pelo caminho da integração ESG na gestão, uma alternativa da autorregulação.

“De acordo com a Anbima, 100% dos ativos do fundo IS têm objetivo ou tese de investimento diretamente relacionado à sustentabilidade. Acho que isso se aplica a fundo de impacto, mas não a fundo ESG”, diz Fabio Alperowitch, sócio-fundador da Fama. “Temos várias empresas no fundo que são superresponsáveis, mas até aí dizer que elas têm tese de sustentabilidade é forçar o argumento.” Para ele, rotular o fundo como IS seria “greenwashing”, termo para apropriação injustificada de boas práticas.

É exatamente o que a CVM e a autorregulação ambicionam evitar, diante da moda da temática ESG. Pela base da Morningstar, há cerca de 120 fundos das mais diversas categorias que carregam o sufixo ESG, e que reuniam quase R$ 8,5 bilhões até o fim de abril. É quase nada perto de uma indústria que tem quase R$ 7,2 trilhões.

“Para nós foi um pouco mais simples atender os critérios porque já tínhamos filtros nas carteiras dos fundos de renda variável e de renda fixa, um pedaço de todas as análises sobre sustentabilidade estavam dentro dos comitês”, diz Luiz Sorge, CEO da BNP Asset no Brasil. O fundo master de infraestrutura já carimbado com o IS reúne R$ 520 milhões.

Ele conta que lá fora o grupo francês se vale de filtros negativos desde 2012 em setores considerados mais sensíveis. “No Brasil havia resistência em falar de investimentos sustentáveis porque teve um período de análises limitadas, e o ISE [índice de sustentabilidade da B3], um histórico de vários anos atrás do Ibovespa”, relata Sorge.

Para o executivo, a pandemia pode ter sido o evento catalisador que trouxe uma visão ampliada sobre o tema, tanto do lado das empresas emissoras quanto de gestoras de recursos e investidores. “É muito difícil [aplicar] se não tiver esse alinhamento, e vem também a camada de validação oficial, do regulador e da autorregulação”, diz.

A Anbima passou os dois últimos anos estudando o que vinha acontecendo no mercado com a preocupação de levar a boa experiência para o investidor e evitar práticas de greenwashing, comentou, em evento recente, Carlos Takahashi, vice-presidente da Anbima, que coordena o grupo consultivo de sustentabilidade. A entidade revisou o guia de melhores práticas e buscou conhecer o que outros países têm feito.

Com o chapéu também de chairman da BlackRock no Brasil, gigante com US$ 9,6 trilhões, Takahashi lembrou que nos últimos anos a gestora adotou o compromisso de sustentabilidade sob a perspectiva dos “stakeholders”, que envolve não só acionistas, mas consumidores, funcionários, fornecedores e comunidade. “Isso diz respeito ao dever fiduciário. Como gestora de recursos é um investidor institucional, tem que ajudar a sociedade e ao mesmo tempo as pessoas a também atingirem resultados financeiros de longo prazo”, afirmou Takahashi. A BlackRock tinha, ao fim de 2021, US$ 509 bilhões em estratégias dedicadas à sustentabilidade, e US$ 3,37 trilhões em ativos com critérios ESG incorporados na gestão.

Na JGP, os fundos de crédito e de ações que têm o sufixo ESG já tinham no mandato o objetivo da sustentabilidade. Na prática, isso se traduziu em excluir certos setores, privilegiando ativos de empresas com externalidades positivas claras, diz o sócio e um dos responsáveis pela área de relações com investidores, Guilherme Bragança. Nos demais portfólios, a ideia é dar abertura para a integração ESG na gestão.

“A política de investimento responsável já existia nos nossos materiais publicitários, no formulário de informações, falta agora adaptar os regulamentos”, diz Bragança, que avalia que a norma local foi bem formulada. “Houve a preocupação de não ser prescritivo desde o início, partindo de um princípio já difundido internacionalmente que é mais interessante investir e fazer engajamento ativo do que só fazer o ‘negative screening’ [o filtro restritivo].”

A evolução do processo ESG dentro da casa adicionou 150 perguntas à análise econômico-financeira das companhias elegíveis, e ao longo do tempo passou a haver uma maior interação com as empresas. “Se consegue modificar empresas que querem endereçar determinadas questões, há muito valor para ser destravado”, afirma Bragança. A política de votos em assembleias também foi alterada com esse viés.

A análise ESG já permeava os fundos da Bradesco Asset Management (Bram) e agora os produtos temáticos estão em revisão para se enquadrarem às regras do IS, diz Rodrigo Santoro, chefe de renda variável da gestora. “Nossa mudança é mais em relação ao regulamento do que à prática em si. A gestão é obrigada a dar mais transparência sobre a metodologia e as políticas.”

Hoje são cerca de R$ 600 milhões nessas carteiras específicas. A Bram, diz Santoro, tem uma metodologia de rating própria e combina com os tradicionais cálculos de avaliação de preço justo para selecionar o que entra na carteira. Embora não tenha um filtro negativo, na prática acaba executando porque a política é investir nas companhias com as melhores notas e que são as referências em seus setores. Papéis dos segmentos de óleo e gás e de mineração, por exemplo, não estão nos fundos ESG porque têm classificação mais baixa.

A BB DTVM já vinha na construção da “nova barra” para fundos sustentáveis, diz Daphne Breyer, analista ASG da gestora. Quando saiu o guia, foi criado um grupo de trabalho e um plano para atender a autorregulação, atualizando as políticas de investimento na documentação dos fundos. No conjunto, ela diz que a asset tem o equivalente a R$ 5,3 bilhões em carteiras sustentáveis, mas há ainda a parte dos multimercados ainda não abarcados pelo IS.

Institucionalmente, a estrutura de governança da BB DTVM já estava formalizada, afirma Breyer. Nos comitês, a análise de ativos de crédito pela ótica ESG pode aumentar o limite investido, diminuir ou até negar. Em ações, há uma metodologia recém-revisada que avalia a materialidade dos critérios de sustentabilidade a partir de informações públicas e questionários que resultam num ranking usado pelos gestores para balancearem suas carteiras. “A ideia é olhar pela lente ESG independentemente das estratégias dedicadas, com o processo de integração na análise dos investimentos quando faz o valuation”, diz. “Com o passar do tempo, vamos incorporar novos fundos como integrados porque temos metodologia para ações, análise de crédito e para risco soberano.”

Na asset do BNP, os outros pilares da integração ESG incluíram a criação de um comitê de sustentabilidade, o monitoramento da evolução ESG nas companhias e também uma interação maior, lista o gestor Henri Rysman de Lockerente. Há uma lista negativa para os setores que mais infringem o Acordo de Paris ou que menos contribuem para a sustentabilidade.

O grupo não investe, por exemplo, em companhias de tabaco, avalia questões como desmatamento ilegal na agricultura, exigindo o rastreamento de fornecedores, e excluiu empresas que tenham mais de 10% das receitas com mineração de carvão. Um dos casos de sucesso no engajamento, conta Lockerente, foi a saída da Vale do segmento no ano passado, com a venda de uma mina em Moçambique. Em geração de energia, como ainda há uma dependência grande das térmicas, a interação é no sentido de as companhia traçarem um plano para a transição para fontes mais limpas.

Para se adequar ao código, a Itaú Asset fez a checagem dos itens pedidos e no final não teve que mudar o que já aplicava no dia a dia, só pequenas alterações na forma de comunicação, segundo Renato Eid, superintendente de integração ESG. Em nota, ele cita que as regras vão ajudar o investidor a ter clareza no que está investindo. Outro ponto relevante se dá pelo fato de a proposta da Anbima ir além da estratégia, prezando que a estrutura da gestora esteja também alinhada ao conceito ESG, o que faz com que o avanço da temática seja mais robusto.

A SulAmérica está fazendo adaptações no regulamento de seus três fundos de crédito ESG e um de ações, mesmo caminho do Plural e da Santander Asset, que pretende estar enquadrada até o fim do semestre.