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Na JGP, médica é gestora de fundo com ações na fronteira da ciência, da Moderna à AstraZeneca

|17.03.2021

Por Jornal O Globo

Por Rennan Setti – 

Enquanto IPOs de hospitais e fusões de planos de saúde movimentam a B3, um fundo brasileiro exclusivamente dedicado ao setor está pouco interessado nas novidades de RedeD’Or, Hapvida e cia. O JGP Health Care só quer saber de empresas internacionais que atuam na fronteira da biotecnologia, fazendo uma aposta em tratamentos tão pioneiros quanto incertos para o câncer e doenças raras.

Por trás da estratégia inusual entre gestoras locais está uma médica cearense com pós-doutorado pela Johns Hopkins que importou para o Leblon a filosofia dos hedge funds de nicho nos quais atuou em Wall Street.

A trajetória de Suy Anne Rebouças ilustra uma diferença fundamental no relacionamento entre universidades e capital financeiro no Brasil e nos EUA. A oftalmologista se formou naUniversidade Federal do Ceará (UFC) e fez residência e doutorado na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), sempre com foco em pesquisas pré-clínicas e clínicas. Quando partiu para um pós-doutorado na americana Johns Hopkins, tomou um baque:

— Lá, professores e alunos levantam “venture capital” (capital de risco), registram patentes, fundam start-ups de biotech etc. A universidade está diretamente plugada a um ecossistema de financiamento — contou Suy Anne à coluna.

Em Baltimore, Suy Anne logo conheceu Kris Jenner, médico também formado pela JohnsHopkins que geria o badalado fundo de saúde da T. Rowe Price, gestora local que tem hoje mais de US$ 1 trilhão em ativos na carteira. (Hoje, Jenner é dono do Rock Springs Capital, um hedge fund especializado em saúde). A trajetória do mentor lhe serviu de inspiração, e a médica resolveu emendar o pós-doc em um mestrado em finanças na própria universidade.

Munida das ferramentas úteis ao mercado financeiro, Suy Anne fez a transição de carreira, assumindo cargos de analista de ações em firmas de investimento de Nova York como WBBSecurities, Burrill & Company, Rodman & Renshaw. Seu foco eram justamente as empresas de biotecnologia que aplicavam ciência básica ao desenvolvimento de novos fármacos e tratamentos. O nicho é praticamente inexistente na Bolsa brasileira, mas representa um mercado multibilionário nos EUA.

Suy Anne ficou em Nova York por três anos. Em 2013, quando voltou para o Brasil por saudade da família, decidiu permanecer no setor financeiro, em vez de retornar aos hospitais. Por meio de contatos entre gestores brasileiros, conseguiu uma vaga de analista de empresas globais na carioca JGP, uma das maiores casas independentes do país. Na gestorade André Jakurski, seu foco eram companhias americanas, não apenas biotechs: analisou de fabricante de tênis à blue chips de tecnologia.

Família Prufer

Mesmo assim, contou Suy Anne, ela seguia acompanhando de perto as empresas de saúde. Diante desse background, o sócio-fundador e diretor-executivo da JGP, Arlindo Vergaças, sugeriu que criassem um veículo específico para ações globais de saúde. Um cliente em especial se interessou: Philippe Prufer, ex-presidente da filial brasileira da farmacêutica EliLilly e, hoje, sócio do family office SKP. Dele e de sua irmã — Alexandra Prufer, professora da faculdade de medicina da UFRJ — veio grande parte do capital inicial do fundo.

A estratégia tem versão local (em reais) e offshore (em dólar), além de um braço que foca exclusivamente em ações de biotecnologia. É uma carteira diversificada, com mais de 150papéis, sendo que 30 deles compõem mais de 60% do patrimônio. Grande parte das companhias é americana.

Uma de suas queridinhas é a Seattle Genetics, que desenvolve alternativas menos agressivas à quimioterapia. Também estão no portfólio a Moderna e a AstraZeneca, que desenvolveram vacinas contra a Covid-19.

— Mas minha decisão de investir nelas nada tem a ver com a Covid. Estamos na Moderna desde o IPO, há três anos. Na AstraZeneca, me agrada sobretudo o pipeline de tratamentos oncológicos — explicou.  

Dado o perfil dos papéis, a volatilidade é enorme, e Suy Anne sabe disso:

— O fundo não é para o investidor que queira ficar menos de três anos. Investimos em firmas de biotecnologia, que levam 10 anos e US$ 3 bilhões para criar uma droga e nem sempre têm sucesso. Então haverá muita queda no meio do caminho. Por isso não tenho taxa de performance. 

O fundo tem tido bons resultados. Desde que foi criado, em 2016, o fundo local (e sem proteção — ou seja, parte do resultado é influenciado pela flutuação do dólar) acumula 130% de ganhos, superando os 124,5% do Ibovespa no período. Em 12 meses, o ganho foi de 69%, melhor desempenho entre os fundos da JGP. 

Apelo ao financiamento científico    

Mesmo assim, as estratégias têm patrimônio relativamente pequeno: menos de R$ 200 milhões, para uma gestora com quase R$ 35 bilhões. O número de cotistas é pequeno, na casa das poucas dezenas, já que até pouco tempo atrás os fundos só estavam disponíveis para investidores profissionais (pelo menos R$ 10 milhões em investimentos). Agora, investidores qualificados (pelo menos R$ 1 milhão) já podem aplicar no veículo, mas o investimento mínimo é de R$ 100 mil.

— Só agora estamos apresentando esse fundo ativamente a potenciais clientes, porque sabíamos que seria necessário primeiro estabelecer um track record. A ideia agora é crescê-lo — justifica a gestora.

Embora não escolha empresas por seu relacionamento com o combate ao coronavírus, Suy Anne acredita que a pandemia ajudará a despertar nos investidores o interesse em investir em empresas de pesquisa em saúde e biotecnologia:

— A Covid serviu para que as pessoas se interessassem mais por ciência. A pandemia alertou para o fato de que a saúde não é algo dado, como imaginávamos. Quando estava do outro lado do balcão, eu suava para conseguir financiamento para pesquisas. O fundo é uma maneira de alavancar esse tipo de apoio.  

Leia a matéria original do O Globo aqui.