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Mercado mantém viés de alta para a Selic em 2021

|07.05.2021

Por Valor Econômico

Por Victor Rezende e Felipe Saturnino —

Apesar da indicação do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de que, no momento, vê os juros ainda em níveis estimulativos no fim do atual ciclo de elevação da Selic, cada vez mais economistas têm em seus cenários perspectivas mais agressivas de aperto, com a taxa em torno do nível de equilíbrio já em 2021. Essas leituras, assim, são condizentes com os preços do mercado, no momento em que a curva de juros aponta para uma Selic entre 6,25% e 6,50% no fim do ano.

Na esteira da decisão do Copom, o BNP Paribas revisou suas projeções e elevou a estimativa para a Selic no fim deste ano de 5% para 6,5%. O que também chama atenção no cenário do banco francês é a perspectiva para a inflação: a estimativa para o IPCA deste ano subiu de 5% para 6% e, em relação a 2022, a projeção para a inflação passou de 3,5% para 4%.

“Provavelmente as pressões inflacionárias deverão forçar uma normalização completa em 2021”, afirma o chefe de pesquisa econômica para América Latina do BNP, Gustavo Arruda. “Embora o BC esteja olhando para a inflação de 2022, a projeção de inflação deste ano pode começar a contaminar as expectativas de 2022. Desde a última reunião, altas nos preços de commodities e claros sinais de restrição de oferta no setor industrial estão elevando as expectativas de inflação deste ano, o que impõe claros riscos à convergência da inflação para a meta em 2022.”

Arruda afirma ainda que, para 2022, há o risco de novas elevações nos juros. A Selic, assim, entraria em território contracionista. “No entanto, mantemos nossa projeção inalterada em 6,5% [em 2022], por enquanto, até obtermos mais clareza sobre o cenário de inflação para 2022”, diz o economista.

No cenário embutido na curva de juros no fechamento de ontem, os preços apontavam para uma alta de 0,80 ponto na Selic em junho, ou seja, a visão do mercado está alinhada à do Copom quanto à Selic em 4,25% no mês que vem. Em pesquisa conduzida pela BGC Liquidez após a decisão com 164 profissionais do mercado, entre economistas, gestores e traders, 97% esperam que a taxa seja elevada em 0,75 ponto em junho e apenas 3% projetam alta menor,
de 0,50 ponto.

“O Copom sinalizou a alta de 0,75 ponto para a próxima reunião de forma bem clara. Faz sentido manter esse ritmo, já que o cenário de juro a 2% não se justificava mais. O importante mesmo é que, com a Selic voltando a uma taxa próxima ao pré-pandemia, o juro real ex-ante vai começar a ficar positivo”, diz o economista-chefe da Western Asset no Brasil, Adauto Lima.

Para ele, a dose depois do encontro de junho dependerá do cenário de inflação e dos riscos fiscais. O economista acredita que o Copom até pode efetuar outro aumento de 0,75 ponto em agosto para levar o juro real perto de 1%, “mas isso não muda muito a minha visão de Selic em 5,5% no fim do ano, ainda que o viés seja para cima”, aponta Lima.

Já o economista-chefe para Brasil do Barclays, Roberto Secemski, acredita que a sinalização de uma nova alta de 0,75 ponto em junho “envia, no geral, uma mensagem mais dura à medida que a inflação segue pressionada em meio a incertezas acima do usual”.

Um dos pontos destacados por Secemski, contudo, está na estimativa de 3,4% para o IPCA de 2022, ligeiramente abaixo do centro da meta. “Observamos que a projeção do próximo ano caiu, apesar de um aumento na estimativa do BC para os preços administrados em 2022, de 4,4% anteriormente para 5,0%.” Em seu cenário básico, o Barclays espera que a inflação feche este ano em 5,0% e encerre 2022 em 3,7%.

O economista-chefe da JGP, Fernando Rocha, por sua vez, mostra preocupação com o ritmo acelerado de aperto. “Não seria melhor ir devagar, dar tempo ao tempo, ver como a economia reage a essas altas? Eu prefiro uma administração assim, mais lenta mesmo, porque o ‘sobe e desce’ gera uma volatilidade negativa: é bom para trader, mas ruim para a economia real.”

A gestora prevê que a Selic fechará 2021 a 6%, mas Rocha afirma que essa projeção tem viés de baixa. “O Copom vai mesmo fazer esse ajuste mais rápido, provavelmente fechando o ano entre 5,5% e 6%. Acho que a projeção de inflação de 2022 está bem comportada, em 3,6% no Focus. Quando se olha a composição da inflação, ela está benigna. Então, em algum momento, acho que ele vai reduzir o ritmo.”

O compromisso firmado pelo Copom com a meta de inflação e a continuidade do processo de aperto fizeram com que a curva de juros experimentasse um dia de diminuição da diferença entre as taxas de longo prazo e as mais curtas. Na reta final do pregão, porém, o movimento foi revertido e os juros longos terminaram em alta.

Outra casa a revisar seu cenário econômico foi o Morgan Stanley, que também espera juros mais altos. Os economistas André Loes e Thiago Machado elevaram a estimativa para a Selic no fim deste ano de 5% pra 5,5% e de 6% para 6,5% em 2022. “Dado que os diretores continuam a observar um processo de normalização parcial da taxa, mas não parecem estar fortemente comprometidos com isso, acreditamos que eles trarão os juros para níveis mais
próximos do neutro (entre 6% e 6,5%) em 2021.”

Embora a visão defendida por alguns agentes do mercado seja mais otimista para o desempenho do câmbio, outros profissionais mantêm um cenário mais desafiador. É o caso do Banco Original, que trabalha com o dólar em torno de R$ 5,70 em 2022. “A nossa principal preocupação no momento é com o jogo a ser jogado no segundo semestre. Temos dúvidas sobre preços de commodities, comportamento do setor de serviços, riscos fiscais Além disso, é preciso começar a ver quando os bancos centrais lá fora vão começar a trazer um pouco mais de calor para o câmbio”, diz Marco Antonio Caruso, economista-chefe do
banco.

Esse cenário mais desafiador pode se materializar já em 2022, tendo em vista as pressões inflacionárias nos Estados Unidos e, ainda, os ruídos eleitorais no Brasil, aponta Caruso. Nesse sentido, o Original trabalha com a inflação em 4% em 2022, acima, portanto, do centro da meta de inflação. Em seu cenário para a política monetária, o banco acredita que a Selic encerrará este ano em 6% e chegará a 6,5% no primeiro trimestre de 2022.