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Maioria prevê início de cortes na taxa Selic a partir de junho

|24.10.2022

Expectativa é de manutenção da taxa em 13,75% na reunião do Copom desta semana, indica pesquisa com 108 instituições financeiras e consultorias

Por Gabriel Roca e Victor Rezende —

É unânime a percepção de agentes de mercado de que a taxa Selic será mantida em 13,75% ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central nesta semana, embora as incertezas tenham aumentado, com eleições em aberto e dúvidas sobre a economia americana. A discussão agora é sobre quando os juros começarão a ser cortados, e, nesse ponto, as apostas se dividem, embora a maioria veja a trajetória de queda começando a partir de junho.

Das 108 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor, todas esperam que a Selic continue em 13,75% e que seja mantida nesse nível também em dezembro. Já em relação ao início do ciclo de flexibilização do juro básico, foram ouvidas 94 casas. Desse total, 37 esperam que a Selic comece a ser reduzida em junho, enquanto 26 projetam um ciclo de cortes na taxa com início em agosto. Há, porém, uma ala do mercado que projeta um início de afrouxamento da política monetária já no primeiro trimestre de 2023.

O cenário econômico entre a reunião de setembro do Copom e a de agora sofreu poucas alterações, o que favorece a manutenção da estratégia da autoridade monetária de manter um discurso ainda conservador e dar ênfase na consolidação de um processo desinflacionário e da ancoragem das expectativas em torno das metas. O mercado aguarda a comunicação a ser utilizada pelo Copom, já que alguns sinais positivos de desinflação da economia começaram a ser emitidos nas últimas semanas.

A evolução das expectativas de inflação de médio prazo, por exemplo, tem alimentado um maior otimismo com o processo de desinflação. Na pesquisa conduzida pelo Valor, a mediana das projeções para o IPCA deste ano caiu de 6,1% em setembro para 5,6%, enquanto o ponto médio das estimativas para o IPCA de 2023 recuou de 5,1% para 4,9%. Vale apontar que, na reunião do Copom que será realizada nestas terça e quarta-feiras, o horizonte relevante para a política monetária deve incluir, com pesos iguais, os anos-calendário de 2023 e 2024.

O alívio nas expectativas de inflação e a possibilidade de a incerteza fiscal se dissipar até o fim do ano são fatores que têm colocado na curva de juros as chances de uma redução da Selic mais cedo do que o consenso espera. O mercado embute nos preços alguma possibilidade de o juro básico ser cortado já em março de 2023, mesmo com a comunicação cautelosa do BC.

“Claramente o processo inflacionário ainda não foi vencido. Apesar dos três meses de deflação na margem, vemos que, nos recortes dos núcleos, a reversão da inflação ainda está longe de acontecer”, diz a economista-chefe da ARX Investimentos, Elisa Machado. Ela aponta, assim, que recebeu bem o tom conservador do comunicado do Copom de setembro e diz esperar uma manutenção dessa tática na decisão desta semana.

“É uma pausa na subida de juros, que se justifica completamente pelo total de altas e pelo orçamento total do que foi feito, mas é preciso reconhecer que a guerra não está ganha”, afirma Machado. Para ela, é “clara” a intenção da autoridade monetária de coordenar tanto as expectativas inflacionárias quanto as expectativas de corte de juros.

“Se o mercado antecipar muito as quedas, acaba atrapalhando o trabalho. Por isso, o BC deve se manter vigilante e usar o discurso para calibrar as expectativas de cortes nos juros”, diz Machado. A ARX espera que a Selic comece a ser reduzida somente em junho, em linha com o consenso dos economistas de mercado.

Entre os que projetam cortes no juro básico no primeiro trimestre de 2023, o economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, acredita que a continuidade da melhora do cenário inflacionário deve permitir que uma flexibilização da Selic comece já em março. Ele, inclusive, projeta números mais benignos que os do consenso para a inflação em 2023, ao esperar o IPCA em 4,1% no fim do próximo ano.

“Basicamente, essa visão se baseia em uma projeção mais otimista de inflação nos próximos trimestres. Tivemos os cortes de impostos, mas também houve queda do preço dos combustíveis em reais e há um processo de desinflação ocorrendo em bens industriais”, afirma Weeks. Entre outros fatores, ele cita os juros já bastante altos, que devem ter impacto na atividade econômica à frente; a inércia menor em 2023; uma melhora nos preços de alimentos in natura; e uma desaceleração econômica global mais acentuada.

“Se o nosso câmbio também ficar comportado, me parece um mundo mais desinflacionário no primeiro semestre”, diz. Weeks, contudo, pondera que o cenário não contempla um grande desarranjo fiscal em 2023 e que esse é o principal risco no momento.

A incerteza elevada é o ponto principal destacado pela economista-chefe para Brasil do J.P. Morgan, Cassiana Fernandez, para quem a Selic só começará a ser flexibilizada em junho. “Esse é o nosso cenário central, mas é preciso reconhecer que temos uma série de incertezas e o grau de convicção acaba sendo reduzido. Há o fator doméstico, pela dinâmica da política fiscal no curto prazo, o evento da eleição e como vai ser formulado o próximo governo, mas também há uma incerteza muito grande com o cenário externo”, avalia.

Fernandez nota, ainda, que a desinflação mais ligada à demanda da economia ainda deve ser lenta, já que o mercado de trabalho segue forte. “Para ver uma queda mais sustentável dos núcleos e da inflação subjacente, o BC precisaria de uma desaceleração maior da atividade econômica que ainda não aconteceu”, enfatiza.

Também por isso, nas projeções do J.P. Morgan, a inflação termina o ano de 2022 em 5,6% e desacelera lentamente em 2023 para 5,2%. “Essa desinflação mais lenta, sim, é um dos fatores que deveriam fazer o BC mais cauteloso. Outro fator é a própria incerteza em relação à política fiscal e ao balanço de riscos. Os números do modelo que apontam que o Copom poderia cortar a partir de junho pressupõem um balanço de riscos equilibrado.”

Da mesma forma, o economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, pondera que seu cenário-base, que aponta para cortes de juros com início em junho, pode ser alterado em casos de surpresas negativas no exterior – possibilidade que ganhou corpo nos últimos dias.

Mesmo assim, na visão de Salles, a desinflação da economia deve ser lenta. Segundo ele, historicamente, há dois fatores que fazem a inflação cair com velocidade no Brasil: uma taxa de desemprego bastante alta ou uma apreciação do câmbio. “Não vemos nenhuma das duas condições presentes neste momento. O desemprego está em níveis próximos do neutro e não deve ajudar na desinflação. Ao mesmo tempo, quando olhamos para o dólar, achamos que sua trajetória é para cima, não para baixo”, afirma.

O economista-chefe da Novus Capital, Tomás Goulart, observa também que, desde setembro, houve uma melhora das expectativas, mas enfatiza que os riscos externos seguem presentes e que ainda não há conclusão sobre os riscos fiscais, já que a eleição ainda está “viva”. “Achamos que, nesta reunião, não devemos ter alteração na condução da política monetária.”

Goulart, assim, diz haver muita incerteza sobre a política fiscal, que é a principal variável local, no momento, para a definição dos juros à frente. Também há indefinição sobre quando a economia global entrará em recessão. “Temos essas duas variáveis, que são as mais importantes para definir o início do processo de corte de juros. No nosso cenário, seria a partir de junho. Não consigo ver redução muito antes disso.”

Para o economista Helcio Takeda, da Pezco, com o nível restritivo da Selic no momento, “não fazer nada é fazer alguma coisa”, já que, naturalmente, há uma expectativa de desinflação. “Essa continuidade de revisões de expectativas de inflação para baixo deve dar alguma segurança para que o BC comece o ciclo de cortes, ainda que de forma conservadora.”

Takeda espera que a Selic comece a ser reduzida em fevereiro de 2023. “O BC terá que reagir já no começo do ano em função dessa dinâmica de ambiente contracionista que deve se instalar”, diz. Esse cenário, porém, pressupõe maior clareza sobre o gerenciamento da política fiscal após as eleições.

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