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Juro alto barra fluxo para ações, segundo trio referência de gestores

Valor econômico |06.02.2024

“Os ativos estão baratos, amassados, o pior momento foi outubro, mas continuam amassados”, diz André Jakurski, sócio-fundador da JGP

Por Adriana Cotias

O Brasil está barato e o que segura o fluxo para investimentos de maior risco são os juros extremamente altos, segundo três gestores de recursos de referência do mercado brasileiro.

“O grande problema da bolsa no Brasil — e também o benefício — sempre foi fluxo [de capital estrangeiro]. Houve um momento inédito, porque janeiro normalmente tem grande alocação de estrangeiros e neste ano teve uma retirada razoavelmente grande”, comentou André Jakurski, sócio-fundador da JGP, ao participar de evento do BTG Pactual. Pelos dados da B3, as saídas líquidas do capital externo no mês passado chegaram a R$ 7,9 bilhões.

O dinheiro local, por sua vez, enfrenta a competição dos títulos isentos com grande massa de recursos saindo de multimercados e fundos de ações, prosseguiu o gestor. “Agora [com medidas do CMN para restringir o lastro dos isentos] vai diminuir, mas prejudica dramaticamente o mercado de capitais brasileiro o instrumento [isento] que tem liquidez diária, rentabilidade e segurança.”

Para o gestor, a partir do momento em que as taxas de juros caírem sensivelmente e estiverem em um nível mais comportado haverá mudanças no fluxo. “Os ativos estão baratos, amassados, o pior momento foi outubro, mas continuam amassados.”

O fluxo relativamente fraco para alternativas de maior risco como a bolsa decorre de “juros extremamente altos em termos reais”, disse Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital. O cenário externo, em tese, traz uma combinação benigna, com a economia americana desacelerando sem recessão, os países desenvolvidos cortando juros e a China num ritmo de crescimento razoável, exportando deflação. Mas ele não está seguro de que uma crise no segmento imobiliário chinês não vá bater no sistema financeiro formal, com o paralelo “shadow banking” já com sinais de fraqueza.

Mesmo que tudo vá bem, para Xavier, o Brasil vai ser “a sardinha do mundo”, vai andar conforme os ativos de risco no mercado internacional. O que vai determinar o gatilho para emergentes vai ser quando o mundo desenvolvido começar a cortar os juros”.

Com a inflação no Brasil rodando próxima da meta, Xavier disse não haver justificativa para o Banco Central (BC) sustentar juros tão altos. Ele ponderou que depois de o BC errar “barbaramente” no corte de juros, quando colocou a Selic em 2% ao ano durante a pandemia de covid-19, a postura tem sido conservadora porque não quer errar na volta, mas claramente está “atrás da curva”. Para o gestor, depois de um trabalho espetacular durante 2023 em diminuir o aperto monetário, agora está longe de estar num “terreno razoável”.

“Quando você mede a inflação corrente, que está aproximadamente em 3,5% contra 11,25% de juros, é uma barbaridade. A gente não precisa estar nesse nível para trazer a inflação de 3,5% para 3%, parece um exagero”, disse Xavier.

Para Luis Stuhlberger, executivo-chefe (CEO) e de investimentos (CIO) da Verde Asset Management, o BC tem medo que um ponto a mais de corte na Selic cause uma “não linearidade no câmbio”, porque o Brasil passou por eventos de desvalorização cambial algumas vezes na sua história. Mas o juro real de dez anos, na casa dos 5,60%, é elevado. Se o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) conseguir colocar sua taxa de referência a 4%, em tese a Selic poderia ser reduzida para algo entre 8%, 8,5%, mas deve ficar em 9%.

O gestor disse considerar a bolsa barata, mas é a taxa de juro longa que influencia os cálculos de valor justo para as empresas. Se a Selic for 4 pontos e o juro real 3 pontos acima das americanas, ele calcula um potencial de valorização de 12% para as ações. “Eu acho que é para onde a bolsa deveria ir meio que rapidamente. Claro, a gente sempre vai ter o medo do fiscal de longo prazo”, disse Stuhlberger.

Ao olhar para 2026, ele questionou o preço que o “PT vai cobrar do país para a reeleição” do presidente Lula. Embora veja o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como uma boa garantia de que nenhum exagero ocorra, o eleitorado segue dividido e como país emergente pode acabar vítima da descontinuidade.

As eleições nos Estados Unidos também são uma preocupação, segundo Jakurski, da JGP, e a última pernada da redução dos preços na economia pode ser mais difícil. Ele comentou que o “establishment pensante” é todo contra o ex-presidente americano e pré-candidato republicano Donald Trump, que pode desestabilizar a geopolítica “dramaticamente e até a democracia americana, segundo alguns”.

O gestor citou que os índices de preços caíram dramaticamente pela queda de bens, com a China como um importante partícipe desse movimento pela deflação no país e excesso de capacidade instalada, “exportando o diabo a qualquer preço”. Agora com o setor de bens retomando, redução de estoques e as economias europeias também se reequilibrando, ele considera que o “last mile” de combate à inflação vai ser difícil. “Mas eu acho que os políticos não estão muito preocupados com isso. Trocar 0,2, 0,3 a mais de inflação pela reeleição do Biden, acho que estão todos de acordo”.

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