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Jakurski, da JGP, está animado com Brasil, mas longo prazo preocupa

Via Valor Econômico |24.08.2023

Fundador asset fala em ‘otimismo cauteloso’ com arcabouço e cortes de juros, mas China e baixa produtividade são pontos de atenção

Por Liane Thedim — Do Rio

André Jakurski, fundador da JGP, entrou no time dos gestores otimistas com o Brasil. Para ele, o novo arcabouço fiscal, aprovado no Congresso, reduziu o risco de cauda do aumento da dívida. “O Brasil é um país que gasta muito mal. Como o nosso juro real é muito mais alto que a expansão do PIB, a dívida vai crescer, mas não em ritmo explosivo, se o governo conseguir manter as metas de superávit primário”, afirma em entrevista ao Valor. “Com a projeção de déficit primário zero do (ministro da Fazenda, Fernando) Haddad, o mercado está preparado para 0,8%, e não acredito que seja mais do que isso. Então, essa área vai ter ruídos, mas não vão ser explosivos.”

Além disso, se a inflação se mantiver controlada, ele vê possibilidade de os cortes da Selic acelerarem em 2024, acima do 0,5 ponto percentual esperado hoje a cada reunião. “No horizonte visível de dois a três anos não vejo problema na área macroeconômica, mas claro que coisas inesperadas acontecem”, pondera. “Minha tendência é ficar um pouco mais animado, mas, como torcedor do Flamengo, tenho que ter um otimismo cauteloso”, brinca.

No momento, sua maior preocupação é com a China e seu alto endividamento interno. “Durante anos se falou que a China ia implodir porque as dívidas estavam crescendo muito. Isso não aconteceu, e elas continuaram aumentando. Agora, o problema está batendo na porta”, avalia Jakurski. O tamanho exato do buraco não se sabe porque os dados oficiais são escassos, mas cálculos do J.P. Morgan são de que a dívida geral – o que inclui famílias, empresas e governo – mais que dobrou desde 2008 e atingiu 282% do PIB do país, enquanto a média das economias desenvolvidas é de 256%.

As dificuldades começaram no setor imobiliário, mas hoje se estendem aos governos locais, cuja dívida equivale a cerca de 30% do PIB chinês, segundo a Fitch Ratings. E vêm aumentando diante da desaceleração econômica. “É uma economia cada vez mais hermética, mas fato é que foi desenvolvida muito em cima da construção civil e da infraestrutura. Desde 2001, quando a China entrou na OMC [Organização Mundial do Comércio], veio um grande crescimento em cima das exportações e da atração de multinacionais”, explica. Agora, afirma, a mão de obra encareceu e o país tem um sério problema demográfico. “Uma série de fatores leva a crer que a China não vai ser o grande motor mundial como no passado. Minha opinião é que, nos próximos anos, tirando 2023, em que vai haver recuperação por causa do fim da política de Covid zero, a expansão será de 3,5% ao ano. E tendendo a cair mais a longo prazo.”

Por enquanto, diz ele, essas questões não estão mexendo significativamente com o mercado global, mas isso pode mudar. “Um problema sério na China afeta o mundo todo. E o grande risco é que países com regimes autoritários que vão mal procuram inimigos externos para mobilizar a população e jogar uma cortina de fumaça no problema. A tensão vai ser crescente com países da região e com o Ocidente”, avalia.

Os juros altos e seus efeitos nas economias desenvolvidas são outra fonte de inquietação atualmente. “O juro real começa a ficar importante, porque as taxas básicas subiram rapidamente desde 2022. Agora a inflação está caindo e o juro, ainda em alta. Então, vai começar a incomodar a economia americana e a europeia.” No entanto, ele diz que é difícil prever se haverá recessão. “A maioria das projeções errou. A Europa, por exemplo, com a invasão da Ucrânia, não entrou em recessão. Está no zero a zero mas a pleno emprego. E crescimento baixo a pleno emprego prejudica a produtividade.”

Os danos da produtividade baixa, aliás, são uma das teclas em que Jakurski bate há algum tempo. Faz parte de um dos “Ds” que concentram as atenções do empresário: demografia, descarbonização, desglobalização e desigualdade, além das dívidas. Ele diz que o Brasil perdeu o bônus demográfico e, como sempre teve baixa produtividade, agora não consegue mais compensar a perda. Segundo dados do Censo 2022 divulgados em junho pelo IBGE, a taxa média de crescimento anual da população foi de 0,52%, a primeira abaixo de 1% e a menor desde o primeiro levantamento, em 1872. “O avanço populacional desacelerou mais rapidamente do que eu, que era pessimista, imaginava. Com baixos níveis históricos de investimento e poupança, o Brasil está condenado a ter um crescimento muito fraco. Um potencial medíocre, de 1,5%.”

A descarbonização, outro “D”, também é vista com certo ceticismo. “A tomada de decisões para tentar mitigar o problema vem aumentando, mas não vai conseguir totalmente.” Uma das pioneiras a atuar no segmento de ESG (sigla em inglês representa a sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa), a JGP vem, segundo Jakurski, cada vez mais buscando interferir na gestão das empresas de forma a se enquadrarem nesses princípios.

“Mostramos a elas que podem fazer coisas boas na área de governança, inclusão social e proteção ambiental sem perder dinheiro. As empresas ganham acesso a fontes que não tinham antes.” Para ele, essa adequação será cada vez mais importante. “A demanda de investidores estrangeiros está cada vez maior, e aqui na JGP preparados para esse momento.”