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A JGP é uma tradicional gestora de recursos e de patrimônio brasileira com escritórios no Rio de Janeiro e em São Paulo. Nosso compromisso de longo prazo é aliar retornos consistentes com o gerenciamento de risco ativo, visando preservar o capital investido por nossos investidores.

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Investidores precisam avaliar iniciativas com atenção

|17.05.2021

Por Valor Econômico

Por Adriana Cotias —

A queda da barragem da Vale, em Brumadinho (MG), no início de 2019, levou a JGP a olhar para questões associadas a responsabilidade ambiental, social e de governança (ESG) mais de perto. 0 grave acidente, que provocou a morte de quase três centenas de pessoas, derrubou o valor das ações e escancarou coma os riscos dos neg6cios em todas essas dimens6es não podem ser dissociados dos resultados. Com a provocação de um cliente, que pediu que o filtro da sustentabilidade fosse usado na sua carteira, a gestora mudou o timão de vez na seleção de ações e ativos de credito.

Marcia Correia, s6cio-gestor da JGP, afirma que o processo de integração, feito de dentro para fora, e ”viciante”, mas alerta que não existe empresa 100% ESG. Ele se diz impressionado com a evolução da Vale desde o acidente e que se a empresa colocar em pratica tudo o que esta propondo, com o projeto de mineração a seco, será um marco. “O mundo sem mineração ou siderurgia não existe, ninguém constr6i um carro elétrico, uma torre e61ica sem aço ou concrete armada, pode-se questionar qual emite mais di6xido de carbono, mas não e possível se livrar da cadeia completamente para migrar a matriz energética.”

Dias atrás, na apresentação dos resultados do primeiro trimestre, executivos da empresa destacaram que o plano é fazer da Vale uma referência ESG e entregar uma operação lucrativa, puxar a transição rumo à emissão de baixo carbono.

A Vale ainda paga o preço do episódio em Brumadinho e está fora de muitas carteiras de institucionais estrangeiros e do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3. Também não entra no fundo Ethical, da Santander Asset, herdado do ABN Amro e que existe desde 2001, antes da criação do ISE. Segundo Raquel Diniz, gestora de renda variável do banco, se a empresa avançar suficientemente, a nota muda e até chegar lá há uma troca, uma parceria, sobre quais resultados precisam ser atingidos. “Empresas com risco potencial ao meio ambiente e de governança costumam ser luz amarela”, diz. Petrobras também não integra o fundo, apesar de estar no ISE.

Uma das vozes mais críticas da gestão de recursos em torno da temática ESG, Fabio Alperowitch, fundador da Fama Investimentos, diz que são raras as empresas que conseguem se destacar em tudo, “sempre vai ter uma ponta solta”.

No caso da Vale, ele cita que a meta para neutralidade em carbono até 2035 é para os chamados escopos 1 (impacto da atividade direta da empresa) e 2 (meios de produção e energia), quando mais de 90% das emissões estão no nível 3 (consumidores e fornecedores), em que o objetivo é a redução de 15%. “Os investidores entendem que têm compromisso para carbono neutro e a empresa não está mentindo”, diz Alperowitch.

Outro exemplo que ele dá é o da Petrobras, que tem iniciativas excelentes em direção à sustentabilidade, mas atua num setor complicado e com as metas ainda sem relação com a atividade central. “A empresa não está fazendo a transição energética, os compromissos de redução de emissões são frágeis. O reporte é transparente, mas isso não reduz a transgressão.”

O desenvolvimento do mercado de dívida, com bônus verdes, sociais ou emissões de papéis atrelados a indicadores ESG vai ser cada vez mais constante. Correia, da JGP, diz que é nessa parte sensível, que é o custo de capital, que normalmente leva a um olhar mais direcionado para essas questões. “As empresas acabam migrando porque ter acesso a dívida mais barata vira obrigação.”

No ano passado, as operações “verdes” alcançaram o equivalente a US$ 5,3 bilhões, segundo dados compilados da base da Sitawi, consultoria especializada em finanças sustentáveis, que reúne diversas fontes. Em 2021, até 27 de abril, as empresas brasileiras levantaram outros US$ 7,3 bilhões entre ofertas locais e externas de dívida ou empréstimos.

Num momento em que as emissões corporativas com o selo da sustentabilidade se multiplicam, é preciso avaliar com lupa as condições, diz Alperowitch. Ele cita a oferta de debêntures da Via com penalidade que considerou fraca e metas ligadas ao aumento do uso de energia renovável, não relacionadas, portanto, à atividade principal da varejista. Se não cumprir, a taxa paga no papel aumenta em 10 pontos-base. “A punição por não atender compromissos é quase zero, mas dá uma manchete legal, quem compra pode dizer que está investindo de forma sustentável, o banco ganha seu fee, é um jogo que agrada todo mundo.”

Já a Natura fechou uma emissão de US$ 1 bilhão em bônus sustentáveis de sete anos com o compromisso de reduzir a intensidade de emissões de gases de efeito estufa em 13% e alcançar um índice de embalagens recicladas pós-consumo em pelo menos 25% até 2026, aspectos diretamente relacionados ao seu negócio. Se não atingir tais parâmetros a taxa dos títulos pactuada com o investidor aumenta em 65 pontos-base.

A partir do momento em que o capital disponível for carimbado para projetos sustentáveis e houver retaliação de negócios sem esse viés, sedimenta-se o caminho da transformação, diz Carolina da Costa, sócia da Mauá Capital.

Com as grandes fortunas trocando de mãos e chegando às novas gerações, o investidor estará cada vez mais disposto a pagar prêmios pelas companhias que considera alinhadas aos seus propósitos, diz Marcelo Cabral, CEO da Neo Investimentos.

De olho na demanda das famílias, a XP criou uma área de investimentos sustentáveis em sua divisão de fortunas. Para Beny Podlubny, head global da XP Private, não adianta chegar com um gabarito sobre o que “é verde ou o que é cinza”, mas construir carteiras locais e offshore de acordo com as crenças de cada grupo. Dar as próprias opiniões, mas também contar com provedores externos. “Cada cliente vai ter o seu tom de verde.”

Para Alperowitch, o primeiro banco que se recusar a fazer o IPO de determinada empresa por falta de aderência ESG, colocar publicamente que vai abrir mão de taxas, perde num primeiro momento as comissões, mas vai ganhar vantagem competitiva. “O problema é que quando tem uma instituição financeira engajada ao ESG e traz a mercado uma operação controversa, os clientes entendem isso como endosso.”

No âmbito da regulação, o Banco Central iniciou no fim de abril consulta pública para estabelecer regras de informações sobre riscos sociais, ambientais e climáticos para as instituições financeiras. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) fez o mesmo ao coletar sugestões do mercado para a reforma da instrução de fundos. A Anbima, que representa o mercado de capitais e de investimentos está trabalhando numa proposta que englobe outras frentes.

Leia a matéria original do Valor Econômico aqui.