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A JGP é uma tradicional gestora de recursos e de patrimônio brasileira com escritórios no Rio de Janeiro e em São Paulo. Nosso compromisso de longo prazo é aliar retornos consistentes com o gerenciamento de risco ativo, visando preservar o capital investido por nossos investidores.

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ESG na JGP: dados, engajamento e os dois pés na realidade

|23.08.2021

Por Exame Invest

Por Renata Faber e Juliana Machado —

A JGP começou a incorporar ESG em seu processo de investimento pela dor. “Mas mantivemos pelo amor”, afirma Marcio Correia, sócio da gestora

Escutamos com certa frequência que todas as empresas terão de incorporar uma agenda ESG, seja pelo amor, seja pela dor. A JGP começou a incorporar ESG em seu processo de investimento pela dor. “Mas mantivemos pelo amor. ESG demanda muito tempo, e seria impossível fazer direito se não acreditássemos que estamos diante de problemas ambientais e sociais urgentes, e as empresas têm um papel fundamental na reversão desse cenário”, explica Marcio Correia, sócio da gestora e responsável pelos fundos ESG da casa.

Para quem conhece a história da JGP, pode parecer curioso que a tradicional gestora carioca se tornasse uma das principais vozes no Brasil defendendo questões ambientais e sociais. A JGP é uma das maiores gestoras de recursos independentes do Brasil, e uma das mais conceituadas, em razão da consistência dos retornos de seus fundos.

Mas talvez seja justamente pelo histórico de bom desempenho e gestão de risco que o tema ESG cresceu tão rápido dentro da JGP. Dois clientes já provocavam a gestora a assumir uma agenda ESG, mas o acidente da Vale em Brumadinho fez a JGP entender que essa agenda não poderia mais ser ignorada.

Ao começar a estudar ESG, a JGP se debruçou para entender a questão climática. E esse evento específico fez a gestora perceber que a transição energética necessária para combater as mudanças climáticas é tão complexa que, nas palavras de Correia, “é um desafio nunca vivido pela humanidade”.

A integração ESG na JGP

A JGP dividiu seus fundos entre ESG e Integração ESG. Nos fundos ESG, certas empresas (que não constam da lista de exclusão, então teoricamente são “investíveis”) são barradas por notas ESG exclusivamente. Na Integração ESG, as empresas “investíveis” podem fazer parte da carteira, desde que suas notas ESG menores sejam compensadas pelo valuation atrativo e uma trajetória de melhora nos fatores que deprimem a sua nota. Além disso, nos fundos ESG, se uma empresa passa por um evento gravíssimo (por exemplo, Brumadinho), fica proibida por no mínimo dois anos de entrar nesses fundos.

Quando “viraram a chave” para ESG, a JGP percebeu que, para fazer direito, precisariam investir em sistemas e pessoas. Além de aumentar o time (hoje o time ESG conta com mais de 40 pessoas), a JGP investiu muito em tecnologia.

O banco de dados, construído nos últimos dois anos, é o sonho de qualquer empresa que esteja avançando nessa agenda ou de qualquer analista de investimentos. Após debruçar na matriz de materialidade de cada empresa, a JGP definiu pesos diferentes para as questões ambientais, sociais e de governança em cada um dos casos e, dentro desses aspectos, quais eram os pontos relevantes para cada setor (por exemplo, consumo de água tem peso grande para mineração e moda, mas não é um ponto de atenção para uma empresa de tecnologia).

“O novo mundo será um mundo de commodities”

A transição energética, fundamental para o mundo reduzir a emissão de carbono, será altamente demandante de commodities, segundo Correia. Pode parecer um paradoxo que a energia limpa demande minerais e aço, dois setores que estão entre os maiores emissores de carbono do mundo. “Um carro elétrico consome muito mais metais do que um carro convencional, e uma torre eólica consome 550 toneladas de aço. Globalmente, precisamos aumentar o peso da energia eólica em nossa matriz energética de 6% para 15%, e só esse evento aumenta em 2% a demanda global por aço. A demanda por lítio deve crescer 41x em 20 anos, o que dá um crescimento médio de 20% ao ano durante 20 anos. Para termos o hidrogênio verde, temos de ter o tanque de titânio”.

A JGP investe na Sigma Lithium, que produz lítio no Vale do Jequitinhonha. Para ter a segurança que poderia colocar em seus fundos ESG uma participação em um setor tão controverso, a JGP contratou uma consultoria, e o time da gestora foi junto com essa consultoria avaliar toda a questão ambiental e social. O processo de mineração da Sigma Lithium é totalmente a seco, fundamental em uma região carente de água. “E é aí que vemos a evolução do capitalismo. Se a empresa estivesse focada apenas no lucro, provavelmente escolheria o processo mais barato, com alta utilização de água”, explica Correia. Além disso, a operação da Sigma recircula 95% da pouca água que utiliza. Em uma região de renda baixa, o impacto social de uma operação como essa também tem de ser medido. “Precisamos entender o aumento da inflação na região desde que a Sigma começou a operar, se o preço do aluguel está compatível com o salário dos funcionários, o nível de escolaridade e inclusive se essa operação contribuiu para algum aumento em casos de prostituição na região”.

Excluir ou engajar?

Um grande debate no mundo ESG é o “filtro negativo”, quando gestores ficam proibidos (ou se proíbem) de investir em determinadas empresas ou setores. Para a JGP, os únicos setores que oficialmente estão em uma lista de exclusão são aqueles nos quais a gestora não vê um ganho líquido para a sociedade, como tabaco, jogos e térmica a carvão. Todos os outros setores são “investíveis” – lembrando que, para uma ação entrar nos fundos ESG, as ações precisam estar no primeiro quartil de qualidade, definido pela gestora.

Os fundos Integração ESG da JGP têm Vale na carteira, e a equipe da gestora aproveita esse investimento para se engajar com a empresa – cobrar avanços na agenda ESG, visitar as instalações e conversar com frequência com executivos e membros do conselho, de modo a medir os avanços e o comprometimento da empresa.

“E será que isso não é melhor do que abandonar a empresa?”, questiona Correia. “Se todos os acionistas desistirem da Vale, ela irá continuar operando, mas talvez de pior forma. O debate tem de ser técnico. E, tecnicamente, cientificamente e socialmente, é errado você virar a cara.”

E as indústrias de petróleo e frigoríficos? “Se investíssemos nessas indústrias, trabalharíamos junto com as empresas para que elas reduzissem seu impacto social e ambiental. Mas, nesses dois casos, existe uma outra variável, que é a substituição. Os combustíveis fósseis e a proteína animal serão substituídos por produtos mais sustentáveis. Pode demorar mais de 20 anos para acontecer, mas vai acontecer, apesar de ninguém saber quando. Mas, para a mineração e a siderurgia, ainda não existe um substituto. O minério de ferro é necessário no mundo de energia limpa, pois não é todo aço que você consegue fazer a partir da sucata”, explica Correia.

Leia a matéria original do Exame Invest aqui.