JGP

A JGP é uma tradicional gestora de recursos e de patrimônio brasileira com escritórios no Rio de Janeiro e em São Paulo. Nosso compromisso de longo prazo é aliar retornos consistentes com o gerenciamento de risco ativo, visando preservar o capital investido por nossos investidores.

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De olho na sustentabilidade

|01.06.2022

JGP cria sistema para avaliar empresas com base em critérios ESG, usando métricas que fornecem uma visão ampla de setores e empresas

O rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, tragédia que arrasou a cidade mineira em janeiro de 2019, deixando mais de duas centenas de mortos, acendeu um sinal de alerta na JGP Asset Management. Na época, já com política de investimento que utilizava critérios ESG (de Ambiental, Social e Governança na sigla em inglês) para alocação de capital em todos os seus fundos, os gestores se deram conta de que havia algo muito errado na avaliação de risco dos portfólios. O grave desastre não estava mapeado como uma possibilidade, sequer remota.

“Foi traumático”, diz Alexandre Muller, sócio e gestor dos fundos de crédito da JGP, gestora com R$ 33, 4 bilhões em ativos sob gestão, dos quais R$ 4,6 bilhões em produtos de crédito. “Percebemos que não considerávamos riscos ambientais e sociais do setor de mineração e eles são muito relevantes.”

Depois disso, a Vale foi excluída do Pacto Global da ONU, por pressão de ONGs, a cotação de suas ações despencou, a empresa perdeu valor e deixou de fazer parte da carteira de grandes fundos internacionais. Para o investidor, sobretudo os de longo prazo, questões como essas, ligadas à sustentabilidade do negócio, são vitais. À medida que fatores ambientais, cada vez mais relevantes no mercado global, sociais e de governança afetam resultados das empresas, ameaçam seu crescimento e até mesmo sua própria sobrevivência, avaliar bem tais impactos e investir naquelas que fazem a coisa certa passou a ser estratégia relevante para quem visa retornos mais longos. É aí que os fundos ESG entram em cena.

A partir do evento Vale, o time da JGP decidiu mudar todo o processo de análise. De lá para cá, desenvolveu sistema próprio de avaliação de empresas com base em experiências internacionais, contratou analistas especializados, criou métricas e ferramentas específicas para obtenção de visão ampla de cada setor e companhia investida, digitalizou e automatizou o modelo adotado. A mudança foi mais um processo de aculturamento do que de lógica de investimentos. A análise fundamentalista é a mesma para todas as empresas, com a diferença de que o ESG traz ao processo de análise inclusão de fatores ambientais, sociais e de governança

Trabalho concluído, em 2020 a JGP lançou fundos de crédito e de ações (um long only), com mandatos específicos com o selo ESG. Na primeira semana de julho, lançou um segundo fundo de crédito no valor de R$ 100 milhões, com leque de investimentos que vão de FIDCs de agricultura de baixo carbono e debêntures verdes a bônus no mercado internacional. E há mais novidades a caminho.

Mudamos muito. O processo de análise fundamentalista tradicional tem foco grande na parte financeira, no modelo de negócio e na rentabilidade. Quando incluímos o ESG, passamos a fazer análises que não fazemos nos demais fundos”, diz Márcio Correia sócio e gestor dos fundos de ações na JGP que somam cerca de R$ 3 bilhões, dos quais 11% provenientes de fundos de pensão. A política de investimentos para todos os fundos inclui uma lista de exclusão com setores “cancelados”, como os de carvão, cigarros, jogos de azar. A decisão tem por trás duas vertentes da palavra sustentabilidade – a do planeta e a dos negócios.

“O cotista do fundo de médio e longo prazo vai se beneficiar disso porque os múltiplos de muitas empresas de mineração e os de frigoríficos negociados em relação a congêneres europeus têm desconto grande “, diz Correia, prosseguindo: “Nossos clientes têm a crença de que o mundo corporativo precisa agir mais nas questões socioambientais. Isso é crescente. Esse cliente é bem engajado, é mais tolerante com volatilidade, visão de longo prazo e cada vez mais vemos os institucionais se preocupando. O investidor institucional sempre se preocupou com estabilidade, mas também tem essa questão de observar riscos de longo prazo. Por exemplo, qual o tipo de risco climático existente na carteira de investimentos?”

Quanto à rentabilidade, o retorno entre fundos ESG e os demais são semelhantes, uma vez que a análise fundamentalista é igual para todos. Alexandre Muller explica que o paradigma do investimento ESG é equilibrar geração de rentabilidade financeira com geração de externalidade não financeira. “Nosso papel como gestor é perseguir esse equilíbrio”, diz. Aliás, o fundo de crédito ESG foi o que obteve melhor retorno este ano entre os demais produtos de créditos, de 4% ante os 3,3% do CDI. Mas nem sempre é assim. Há oscilações devido a fatores conjunturais, sobretudo em relação ao mercado de ações. “No começo o fundo ESG foi melhor, mas agora não. Isso, porque este ano a parte de commodities teve bom desempenho e o fundo ESG tem menos exposição a commodities”, diz Márcio Correia.

Os gestores se dizem convencidos de que fatores como o estilo do fundo são os mais determinantes para o retorno. No caso dos long only da JGP, a diferença entre eles está nas empresas que compõem a carteira. A Vale, por exemplo, permaneceu no produto convencional, mas está fora do fundo com mandato ESG, onde só entram aquelas consideradas best in class nessa agenda, inclusive no mercado global, onde é alocado algo em torno de 5% e 15% do capital.

Os critérios de análise para investimento nos fundos ESG passam por avaliação sobre atuação nas três áreas da sigla. Para cada uma das letras, o time da gestora avalia cerca de 25 subitens a partir de um total de 250 perguntas feitas às cerca de 100 companhias do portfólio dos fundos, atribuindo pesos específicos de acordo com o setor de atuação das empresas. O conjunto dos atributos resulta em nota para cada ativo, e com um click os gestores conseguem uma foto precisa das empresas.

Um dos setores investido é o de vestuário, apesar de sua fragilidade nos itens ambiental e social. No primeiro, os riscos decorrem do tipo de matéria-prima utilizada, bem como do controle de produtos químicos e de seu descarte; no segundo, o principal deles reside no perfil de sua cadeia de fornecedores e das condições de trabalho em cada um dos elos desse processo. Com relação ao material, o mapeamento da JGP avalia o tipo de algodão utilizado e os danos causados à natureza. Quando o negócio vale a pena, mas requer aprimoramento da sustentabilidade por parte da empresa, a JGP se engaja na companhia e procura everter efeitos negativos.

“Em 2007, apenas 5% do algodão utilizado pela Renner era do tipo sustentável. No ano passado, já eram 90%”, diz Márcio Correia. Em relação à questão social, o levantamento feito em relação aos fornecedores começa pelas condições de trabalho em países asiáticos, com visitas de analistas aos países produtores. “Cobramos deles diligência grande junto a fornecedores para investimos na empresa. “Quanto mais cobrada é a companhia, mais importância dá a essas questões. Há muitas que levam a sério, outras que fazem greenwashing (maquiagem verde)”, diz.

As regras do jogo mudaram nesse novo modelo capitalista, que ganha corpo no mercado global e chega ao Brasil ainda timidamente. Já não se trata de apenas aumentar o lucro, distribuir dividendos e fazer filantropia. O modelo atual considera a participação de todos os stakeholders dentro desse lucro, de modo a garantir sustentabilidade do negócio e da rentabilidade. O ponto de partida veio de Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora do mundo com cerca de US$ 10 trilhões em ativos, que saiu em defesa da agenda ESG, também propondo relação ampla entre empresa, funcionários, clientes, fornecedores e comunidades. A tese é de que deve prevalecer um modelo onde todos se beneficiam para a empresa prosperar.

Nesse cenário, a JPG é um tipo de stakeholder com poder considerável, capaz de fazer bastante barulho. A gestora, que adotou oficialmente a filosofia ESG no início de 2020, passou a declarar o voto, o que não ocorria anteriormente, e intensificou engajamento com empresas. No caso da Vale, analistas da gestora passaram dias em Mariana, outra cidade atingida por rompimento de barreira, avaliando impactos sobre a população e entrevistando moradores. Isso, porque mineração é setor fundamental na transição energética e, logo, importante em uma carteira de investimentos.

“Queremos investir em mineração, mas precisamos nos engajar com a empresa. Vamos olhar seu processo, como afeta a sociedade e tentar transformar impacto negativo em positivo. No caso da Vale, levamos as questões ao Conselho”, diz Correia. Atualmente, nos fundos com mandato ESG, há investimento em mineração na empresa Sigma Lithium, no Vale do Jequitinhonha. Na visita feita à companhia, os analistas avaliaram detalhes como o tipo de planta de processamento do minério; uso e quantidade de água; circulação; modo de lidar com o dejeto; e o impacto para a sociedade. A mineradora passou no teste.

Os fundos com mandato ESG também investem na Localiza, em empresas do setor de saúde, de energia (o Brasil é referência no mundo em sustentabilidade nesse quesito em função da grande participação das fontes renováveis na matriz energética). Mas o tema eleito como principal na JGP é o desmatamento. A busca de solução sistêmica para o problema deve envolver corporações, como frigoríficos, mineradoras e grandes redes varejistas. “A ideia é tentar elaborar um plano de trabalho para criar uma solução sistêmica. É o que chamamos de engajamento”, diz Muller.

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