JGP

A JGP é uma tradicional gestora de recursos e de patrimônio brasileira com escritórios no Rio de Janeiro e em São Paulo. Nosso compromisso de longo prazo é aliar retornos consistentes com o gerenciamento de risco ativo, visando preservar o capital investido por nossos investidores.

Comunicação

ESG, Mídia
icone voltar Todas as notícias

Cadeias produtivas vão ativar ESG no país, diz JGP

Valor Econômico |14.12.2023

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023 (COP 28) terminou com menos avanços que os ambientalistas gostariam na declaração final. Nos eventos paralelos oficiais, porém, o terreno foi fértil em conversas entre empresas. Entre elas estava a JGP, que participou de mais de dez painéis, o maior número de sua história, e anunciou quatro projetos em colaboração com outras instituições. Em entrevista de Dubai para o Valor, José Pugas, sócio da gestora responsável por ESG (conjunto de práticas voltadas para a preservação do meio ambiente, responsabilidade social e transparência empresarial, na sigla em inglês) e estratégias de crédito sustentável, afirma que, até a COP 30, que acontecerá em 2025 em Belém, o país verá um crescimento significativo de investimentos em finanças sustentáveis.

Segundo ele, o impulso virá das empresas com cadeias produtivas no Brasil, que precisam financiar a transição de seus fornecedores, diante das regras mais rígidas aprovadas na União Europeia, por exemplo. Em 2024, as importadoras sediadas no bloco serão obrigadas a implementar sistemas de diligência prévia para monitorar as cadeias de fornecimento. O objetivo é barrar compra de bens produzidos em áreas devastadas. “Em Dubai, um dos nossos legados é a entrada no debate do setor de agricultura, em que o Brasil é um dos líderes globais”, diz Pugas.


O executivo conta que a JGP “não bate mais na porta do investidor”, mas sim na do comprador do produto brasileiro. “Cadeias, cooperativas e grandes compradores têm que participar ao menos para dar as garantias. É onde a gente vê o ponto ótimo das finanças sustentáveis porque amplifica e tem diálogo mais produtivo com o mercado de capitais.”


No Brasil, o mercado ESG engatinha: estudos mostram que o país tem pouco mais de 200 fundos enquadrados nas práticas sustentáveis, enquanto Europa tem mais de cinco mil e Estados Unidos, 600. Para Pugas, o problema esteve na origem: “O capital internacional ainda não tem presença forte porque os mandatos estavam errados. A maior parte foi criada na COP 26, mas não concebia a complexidade do tema e foi feita para financiar a transição energética, que é um problema do Norte global [nações desenvolvidas], países que eram baseados em carvão.”

“Projetos que gerem impacto têm que ser financeiramente mais atraentes para crescerem”
— José Pugas

Relatório da consultoria McKinsey mostra que metade do capital alocado em teses climáticas foi para projetos de energia entre 2019 e 2022, seguido de transportes, sobretudo carros elétricos. Pugas vê o Brasil à frente nessa área, em que o mercado de capitais entrou desde o início, e afirma que nossa principal necessidade é relacionada ao uso do solo, basicamente desmatamento e baixo nível de eficiência em agricultura e pecuária.


Duas operações recentes são uma amostra clara da estratégia da gestora. A asset independente foi investidora-âncora de um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) no fim do ano passado no qual a Tobasa, maior fábrica de carvão ativado da América Latina e cuja principal matéria-prima é o babaçu, substituto da produção de palma, produzido de forma extrativista por centenas de famílias, captou R$32 milhões a CDI mais 5% e prazo de cinco anos.

A JGP ancorou também um CRA de R$ 50 milhões para a Oakberry, a CDI mais 2,30% e vencimento em cinco anos, para compra de polpa de açaí de ribeirinhos e cooperativas do Pará com diversos compromissos ambientais e sociais. Na COP 28, anunciou dois projetos de cooperação com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) e o Instituto Igarapé. Um para constituição de uma aceleradora de soluções de finanças híbridas (no jargão do mercado, “blended finance”, combinação de
dinheiro não reembolsável, vindo de filantropia, bancos de fomento ou organismos multilaterais, com capital remunerado de investidores) que deixem um legado concreto em Belém e na Amazônia Legal, para a COP 30. E outro para destravar recursos que deem escala a projetos estruturantes na Amazônia.

Além disso, lançou um CRA de R$ 150 milhões da Capal, cooperativa de produtores rurais com mais de 3,7 mil cooperados em São Paulo e Paraná. Na gestora, as alocações em ESG somam R$ 500 milhões, incluindo um fundo específico com R$ 170 milhões, FIDCs de renováveis e ativos dispersos em outros fundos, principalmente no Fiagro, entre outros ativos.

Pugas frisa que as operações em ESG precisam gerar ganho aos investidores para atraírem recursos, atualmente ainda bem mais escassos
que os direcionados à agricultura tradicional, que é subsidiada em muitos países. “Caso contrário, ficaremos sempre como nicho. Mas as mudanças climáticas estão aí. Tenho que estar proximo à massa de investimento, sem esperar que ela mude.” O volume potencial é alto. Relatório da McKinsey calcula que, até 2050, as gestoras serão responsáveis por oferecer de US$950 bilhões a US$ 1,5 trilhão por ano em oportunidades ligadas ao clima no mundo.

“O que precisamos é de capital paciente e qualidade da garantia, o que reduz a percepção de risco do investidor tradicional. Projetos que gerem impacto têm que ser financeiramente mais atraentes para crescerem e gerarem mais impacto.” O sócio da JGP conta que estruturar um projeto de R$ 30 milhões leva de oito a 14 meses, enquanto uma debênture comum está na rua em 90 dias. “Quando a gente investe tempo e paciência para analisar e entender, destrava nichos de investimentos.

Filho de sindicalistas, Pugas entrou no ativismo ambiental ainda muito jovem, logo depois de entrar na faculdade de Direito da UFRJ, ao ajudar o pai, então presidente do sindicato de pescadores do Rio, a brigar na Justiça contra a Petrobras, depois do desastre causado pelo vazamento de petróleo na Baía de Guanabara, em 2000. Há 17 anos, entrou no agronegócio e, como vicepresidente de relações internacionais da Rede ILPF (Integração LavouraPecuária-Floresta), desenvolveu com o Climate Policy Iniciative (CPI, organização internacional de política climática com sede na Califórnia) um fundo que depois teve a gestão assumida pela JGP. O convite para se tornar sócio veio em 2021. “Entendi que o mercado financeiro pode ser promotor de transformações. Hoje me sinto metade ativista e metade financista, ou seja, faço finanças com propósito.”